Canas bravas: uma das maiores
pragas em rios portugueses e causadoras de secas em alguns cursos de água, mas
também, em terras de cultivo e outras propriedades. Também é responsável
por graves alterações paisagísticas com reflexo no turismo.
A espécie de canas, chamada
canavieira-brava, é uma planta com um historial não nativo, isto é, não é uma
planta autóctone de Portugal. Antigamente utilizadas com a finalidade de
definir a extrema entre os campos agrícolas, agora tornaram-se uma praga para
rios, lagos e ribeiras devido ao seu consumo excessivo de água e à sua rápida
propagação.
A espécie de cana (Arundo donax) veio da Ásia na altura dos Descobrimentos século XV /XVI através das trocas comerciais marítimas. Os nossos antepassados pensaram que seria um benefício para a divisão dos seus terrenos agrícolas, construções de casas para o povo, decorações pessoais, barreira contra as maresias, que estragam as plantações na zona, são muito comuns no centro do país. Devido à sua propagação excessiva, retiram o espaço para o desenvolvimento de plantas autóctones das margens do rio. Estas canas podem possuir deste 3 a 10 metros de altura, propagam-se através dos rizomas e sobrevivem a “grandes períodos” sem água. Possuem elevadas defesas contra doenças, tornando-as praticamente imunes. Quando secas possuem elevado nível de inflamação, podendo provocar fogos difíceis de extinguir se forem inflamadas. Sendo uma espécie difícil de exterminar devemos ter certos cuidados na tentativa de extermínio: não as podemos destroçar (com dispositivos destroçadores) e deixá-las na terra porque os rizomas voltam a rebentar; não podemos apenas retirar o caule, pois o rizoma continua sob a terra; até mesmo os pesticidas, não sendo bem aplicados, resultam num problema para o solo, não garantindo a exterminação de todas as plantas.
A forma mais eficaz e mais fácil de as exterminar completamente é arrancar as canas até ao rizoma.
Ao fundo, uma terra abandonada pelo proprietário está totalmente cheia de canas, silvas e que se desenvolveram em mistura. O dono da terra, outrora fértil, que se vê em primeiro plano e a cultiva, tem todos os anos de eliminar os infestantes que progridem e avançam para a sua propriedade. As suas reclamações são ignoradas pelo seu vizinho que a herdou e não a cultiva.
Em frente à esquerda, este terreno estava em baldio e o seu proprietário recuperou-o este ano para plantar milho. Cortou as canas, mas deixou os rizomas, entre as duas arvores. Em terreno fértil as canas recuperaram e, passados apenas dois meses já atingem cerca de dois metros de altura. Após a segunda arvore, cortou as canas e extraiu os rizomas. não existem canas nesse espaço.
Continuando da esquerda para a direita (após a terceira arvore) o terreno tem outro dono que, há dois anos, fez uma limpeza do seu terreno até ao rio. Cortou as canas e extraiu os rizomas; não existem canas nesse terreno numa frente para o rio com extensão de cerca de 50 metros. em primeiro plano, o dono desta terra nunca teve canas pois mantém a sua terra limpa, apenas a vigia e limpa sem qualquer intervenção.
Esta pequena praia do rio Anços, já com algumas canas, era muito procurada pela população, atualmente a invasão deste infestante bloqueou o seu acesso. Não pode ser visitada e desfrutada.
Uma imagem recente da mesma praia mostra, com algum dramatismo, o efeito da invasão descontrolada das canas bravas. O leito do rio, em estado totalmente degradado, nem sequer pode ser inspecionado. Esta é uma situação corrente e que se irá verificar e expandir noutros locais se não forem tomadas medidas adequadas para a sua irradicação.
É difícil de avaliar o estado do leito do rio após décadas de falta de limpeza. Apenas em alguns sítios é possível fazer essa observação.
Num
dos poucos locais onde pode ver-se o leito do rio a situação é esta,
Eis, pois, um vislumbre do estado em que se encontram os rios que seriam uma bênção para muitos países e povos.
O
problema não se restringe a atividades agrícolas ou industriais, engloba outras
como o turismo que, cada vez mais, assume um papel importante na economia.
Infelizmente
nem sempre as autarquias são sensíveis a este particular aspeto.
Em
minha opinião, deverão ser tomadas medidas urgentes para evitar o descontrole
total e a recuperação dos terrenos onde a invasão de infestantes é notória.
Numa estimativa, tomando como base a minha própria observação e reflexão, uma equipa com uma máquina escavadora pequena e dois ou três trabalhadores, pode erradicar, em média por dia, cerca de 50 metros de uma faixa ou margem.
Previamente
é necessário efetuar o corte, destroçamento ou queima das canas devidamente
autorizadas e acompanhada.
Esse
trabalho deve ter caracter permanente até à irradicação total do infestante e
tem de ser gerido de acordo com as épocas do ano e de uma lista de prioridades.
A
divulgação deste fenómeno e as suas consequências congregará e potenciará
esforços.
Alguns proprietários, que possuem equipamento e sentido de responsabilidade, estão dispostos a colaborar autonomamente, alguns já o fazem.
Tanto quanto estudei, a propagação dá-se por extensão dos rizomas, pelo que o aparecimento em zonas distantes, afastadas dos terrenos onde se desenvolvem, deve-se ao facto de terem sido para lá levadas intencionalmente, para serem usadas na agricultura ou na separação de propriedades ou mesmo como quebra vento. É uma prática desaconselhável pois facilmente se propagam muito rapidamente e prejudicam outros proprietários.
Nota
final: As canas selvagens podem ser uteis em determinados casos e podem justificar
a sua existência. Nesses casos seria possível a sua cultura em locais
circunscritos e sujeitos a licenciamento.