quarta-feira, 1 de fevereiro de 2017

Percalços de um pegador de touros - verídico



Uma história verídica

Num fim de tarde nos anos 90, no bar do casino, um grupo de amigos confraternizava, quando o leader do grupo, um conhecido bravo e corpulento pegador de touros, chamou a atenção dos companheiros para dois cavalheiros que chegavam nesse momento.
Bem vestidos, e com modos de pessoas de bem, sentaram-se e encomendaram bebidas ao bar man que saiu do balcão para os atender. Tudo isto era suspeito e de virilidade duvidosa...
Quando regressava ao balcão foi chamado pelo chefe do grupo, cliente assíduo, que lhe perguntou em voz baixa, o que é que os tais cavalheiros haviam pedido.
Um whisky e um brandy, disse ele.
Então o senhor vai-lhes servir, em vez disso, dois copinhos de leite morno...
Conhecendo bem o seu perfil agressivo, por vezes violento e, encolhendo os ombros fez o que ele disse, preparou dois copos de leite e levou-os à mesa dos dois cavalheiros dizendo que era oferta dos clientes da outra mesa e acenou com a cabeça.
Tendo já reparado no grupo quando entraram e, não aparentando sinais de surpresa ou indignação, começaram a beber e até brindaram de longe ao grupo, que recebeu o cumprimento com agrado e sorrisos.
O pegador deu uma cotovelada cúmplice ao companheiro do lado.
Passado algum tempo, os "intrusos" levantaram-se. Um deles dirigiu-se ao balcão e o outro disse que ia buscar um isqueiro ao carro e regressou rapidamente para junto do companheiro.
Chamando o empregado, segredou-lhe para ele lhes servir as bebidas inicialmente pedidas e dois copinhos de leite ao senhor mais forte do grupo, obviamente o chefe, ao mesmo tempo colocava ostensivamente o "isqueiro" sobre a mesa, um revolver de bom calibre.
O empregado, embaraçado e receoso encheu dois copos de leite idênticos aos anteriores e dirigiu-se, trémulo, ao grupo, sussurrou qualquer coisa ao ouvido do toureiro e colocou à sua frente os dois copos.
Ao balcão, os dois clientes iam saboreando descontraidamente as suas bebidas.
O forcado bebeu um dos copos com aparente agrado e até com alguma sofreguidão e, quase a terminar o segundo copo, olhou de soslaio para o balcão onde estavam os dois "maricas".
Enquanto um deles pagava a despesa, o outro pegou na arma e com gesto quase profissional, guardou-a no coldre que trazia dissimulado debaixo do casaco.
Vendo que estava a ser observado, levantou o seu cálice de aguardente velha e saudou uma vez mais o grupo.
O Nuno bebeu então e de um só trago o resto do leite, observando o "casal" que saía da sala de mão dada.
Foi isso que lhe pareceu, muito embora o seu ângulo de visão não fosse o melhor mas e, desta vez, a bebida nem sequer caíra mal.
Murmurou baixinho e interrogando-se a si próprio, Quo Vadis?