sábado, 16 de janeiro de 2021

Coimbra do Choupal até à Lapa

Nas décadas de 1940/60 residi em Santa Clara - Coimbra, cresci com o Portugal dos Pequeninos tendo acompanhado a sua construção desde o inicio. Eu e os meus amigos jogávamos à bola num "campo" ali mesmo ao lado, junto ao cano dos amores da Quinta das Lágrimas e desfrutávamos dos pequenos mosaicos e outros "petiscos" que eram abandonados ou estavam ali "semeados" nas obras. Mais tarde, quando já eramos uns rapazinhos, voltamos a nossa atenção para o rio Mondego, a uns escaços 200 metros. O rio era "nosso" desde o Choupal até à Lapa.

O rio tinha muita atividade, lavadeiras, barcos, pesca e praias.
Um dos meus amigos era familiar dos donos de uma ponte de madeira sazonal, que atravessava o rio desde a estação do caminho de ferro ( a estação nova  ou B ) até à Guarda Inglesa em Santa Clara.
Poupava-se tempo e sapatos ( quem os tinha ) mas pagava-se uma portagem ao senhor Modesto, que era também dono de alguns pequenos barcos.
O Fernando era o mais velho e, às vezes arranjava um desses barcos no qual navegávamos. rio acima.

Subir o rio não era tarefa fácil pois era contra a corrente. A solução era levar barco à sirga ( puxado com uma corda parcialmente enrolada ao corpo) o Fernando era o mais forte e fazia a maior parte do percurso. Mais tarde foi atleta da Associação Académica e posteriormente oficial do exército.
Para baixo todos os Santos ajudavam e lá vínhamos nós a remar, ou nem isso, até ao embarcadouro junto à ponte de madeira.
Passávamos o dia inteiro nesta viagem e pescávamos com metodologia menos ortodoxa, tomávamos 50 banhos  jogávamos à bola. As nossas mães preparavam um pequenos farnel e beber água não era problema, havia muita no rio. 
Sendo responsáveis ( andávamos todos na catequese ) eramos muito cuidadosos. Filtrar a água era fácil, abria-se um buraco na areia e a água fluía, filtrada e fresca.
Pescar também não era complicado, os peixes eram curiosos e tinham tendência para se aventurarem em pequenos charcos que construíamos com uma entrada de água do rio. Era só esperar algum tempo escondidos e depois fechávamos a entrada/saída com um ramo de salgueiro, previamente cortado e que servia também para camuflagem.
Mas havia outros métodos, a pesca à toca era muito mais rentável, localizada a toca enfiava-se uma mão, apanhava-se um peixe e atirava-se para a margem. Convinha manter a entrada da toca controlada com a outra mão. Por vezes eram às dezenas.

Lapa dos Esteios - Santa Clara - COIMBRA
Regra de segurança, não meter a cabeça debaixo de água pois podia o braço ou mão ficar entalada e um gajo morria sufocado. Isso sucedia.
A Lapa, lugar romântico, é uma formação rochosa ou laje que entrava pelo rio. No sopé havia o paradigma das tocas mas era preciso mergulhar e manter a cabeça debaixo de água. Eu e os meus amigos nunca o fizemos por ser muito perigoso e com acidentes conhecidos.
Nesse local o rio era ótimo para mergulhar e nadar.


Também pescava à linha, aprendi a fazer a minha arte usando, a seguir ao anzol, uma crina de cavalo que era invisível na água, posteriormente passei a usar fio de nylon quando este surgiu no mercado. 

Aprendi a nadar na piscina da praia fluvial do Mondego.

Vista geral da praia fluvial e piscina