Pato real, uma comunidade muito interessante e comum em Soure, particularmente na foz do rio Anços
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Pato real, macho e fêmea |
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levada e cascata |
Possuo uma casa de campo, um moinho de agua recuperado para habitação, que é um autentico observatório da natureza. O quintal confina com o rio Anços e uma levada atravessa a propriedade. |
Janela discreta |
O lugar é procurado por aves, lontras e outros animais selvagens. Um casal de pato real selvagem visitou a propriedade, gostou. Passou a frequentar regularmente o nosso quintal. Muito atentos à presença de predadores, os humanos em particular, acabou por aceitar a nossa presença na devida distancia.
Este ano resolveram aumentar a família e constatamos que a sua presença passou ser quase permanente.
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O casal dormia neste lugar |
Passaram a pernoitar em frente à casa mas, como dormem com a cabeça debaixo da asa receamos o pior, as lontras são uma ameaça quase silenciosa e ruido da cascata é um seu auxiliar. O pior aconteceu mesmo, encontrei o macho morto na relva debaixo de uma arvore de fruto, que era num lugar que ele visitava regularmente. Tinha morrido horas antes.
O animal acusava um ferimento profundo numa asa e no peito, feito por um predador talvez uns dias antes, sobreviveu alguns dias.
Pouco depois, a fêmea apareceu no mesmo sítio, observei isso à distancia, depois desapareceu da minha vista, julgo que levantou voo.
Retirei o animal e pensei que a história terminava ali, mas o mais interessante estava para vir...
No mesmo dia ao fim da tarde, apareceram no quintal 3 belos machos, algo inédito, isso nunca tinha sucedido, pousaram junto ao rio, depois, um deles levantou voo. Dois permaneceram ali durante largos minutos e, por fim, caminharam em direção ao lugar onde a fêmea estava invisível, escondida e provavelmente aninhada a chocar os seus queridos ovos. Depois partiram em direção a Soure.
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O pato real vigilante |
A sensação que que tive era que se tratava de dois
inspetores e tinham tido instruções para verem o que se passava, um comportamento quase humano. Ainda no mesmo dia, ao fim da tarde, regressou um dos patos, um belo e vigoroso animal, posicionou-se em atitude vigilante e ostensiva no muro, em frente à cascata e do abrigo da fêmea que fica por baixo de uma casa em ruinas, local húmido mas coberto.
Manteve-se no seu posto até ao por do sol depois, incrivelmente, foi para junto da fêmea e ali permaneceu até de manhã.
Regressou ao seu posto de vigília e ao fim de cerca de uma hora levantou voo. O pescoço comprido, visível na imagem, é diferente do progenitor que era pequeno e mais comum.
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Os patos percorreram lentamente este caminho |
Imagem da propriedade, ao fundo o rio Anços em cuja margem os patos e a algumas outras aves aterram.
Os inspetores, depois de pousarem, percorreram o caminho, sem voar, até ao local onde estava escondida a fêmea viúva.
Caminharam lentamente até perto da cascata.
Não viram ou contactaram a pata viúva.
Não pode ser coincidência mas não sei explicar como foi possível a divulgação do acidente ou a transmissão da mensagem. É um verdadeiro mistério.
Decorridos três dias o pato sentinela tem regressado todos os dias ao fim da tarde e permanece junto ou próximo da fêmea. De manhã, depois de surgir a luz da madrugada levanta voo e vai à sua vida.
Despreza, sem lhe tocar, uma mistura de sementes que coloquei para auxiliar a mãe viúva. Esta sim, uma ou duas vezes por dia, depois de esticar as asas e fazer a sua higiene dentro da levada come a sua ração com evidente avidez.
O novo companheiro, possível padrasto se houver sucesso, regressa pontualmente ao fim da tarde e passa a noite junto da fêmea ou no seu lugar de vigilância com atitude ameaçadora ou de despistagem.
De facto, se alguém se aproximar levanta voo mas regressa passados alguns minutos. Se sentir insegurança não pousa e dá mais alguma volta, mas regressa.
Hoje fui visitar o santuário do pato real em Soure e verifiquei que havia alguma dispersão mas mantem-se a separação de sexos, machos em maior número descansam e procuram alimento junto à ponte e as fêmeas também juntas nadam no rio principal, o rio Arunca.
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Foz do Anços, os machos formam o seu grupo |
Entretanto e inesperadamente, a patinha viúva regressou sozinha cerca das 19 horas, brincou na água e comeu uma boa dose de sementes que mantenho abastecida. Abalou passada cerca de meia hora.
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Pata real e sua prole |
Terá vindo porque mantém um vinculo sentimental, gosta do local ou apenas porque tem aqui um suplemento alimentar?
Regressou todos os dias durante cerca de uma semana, sempre à mesma hora e repetiu as suas brincadeiras, lavagens alimentação partiu para junto da sua família.
Não encontro explicação para o facto de aparecerem três patos machos no dia da morte do companheiro, e um deles se manter vigilante até ao fim da incubação que seria abortada.
Desconheço se há alguma forma misteriosa de comunicação entre estes animais, tanto mais que na comunidade machos e fêmeas vivem separados.
SERÁ UM FENÓMENO DE ENTRELAÇAMENTO QUANTICO?
Dou por encerrada a história mas, inesperadamente, surgiu no mesmo local uma garça real, espero que não haja romance.
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Janelas discretas para espiar a natureza |
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Garça real, animal muito esquivo |